O Dependente Químico Tem Sentimentos?

Descubra como a dependência química afeta as emoções e o comportamento, e por que muitas vezes o dependente parece não ter sentimentos.

Muitas pessoas acreditam que o dependente químico não tem sentimentos, que é egoísta e pensa apenas em si mesmo.

O comportamento de quem sofre com a dependência pode reforçar essa ideia, já que, em muitos casos, ele deixa de lado família, trabalho e responsabilidades, colocando o uso da substância como prioridade máxima.

Porém, para entender essa questão, é essencial lembrar que a dependência química é uma doença que afeta diretamente o cérebro, alterando não apenas o comportamento, mas também as emoções e a forma como o indivíduo interage com o mundo.

A Dependência Química Muda a Forma de Sentir

A substância altera o funcionamento cerebral, interferindo na produção de neurotransmissores responsáveis pelas emoções. O dependente pode passar a agir de maneira impulsiva, descontrolada e, muitas vezes, sem considerar as consequências de seus atos.

Essa mudança na química do cérebro faz com que ele pareça uma pessoa completamente diferente quando está no uso, tornando-se manipulador, agressivo ou indiferente às emoções dos outros.

No entanto, isso não significa que ele não tenha sentimentos, e sim que eles estão sendo afetados pelo efeito das drogas.

Como a Droga Impacta os Sentimentos?

O comportamento do dependente químico pode ser analisado em três fases distintas:

1. Durante o Uso

Quando está sob efeito da substância, ele pode demonstrar pouca empatia, ignorar pedidos da família e agir de maneira impulsiva.

Seus sentimentos estão entorpecidos, e seu foco está apenas na próxima dose. Nessa fase, ele pode mentir, manipular e até cometer atos ilícitos para sustentar o vício.

2. No Pós-Uso

Após o efeito da droga passar, surgem sentimentos como culpa, vergonha, arrependimento e solidão. Muitos dependentes chegam a prometer que vão mudar, mas acabam cedendo ao ciclo do vício novamente para anestesiar essas emoções dolorosas.

3. Em Recuperação

Quando sóbrio e em tratamento, o dependente pode recuperar sua capacidade de demonstrar sentimentos saudáveis.

Ele pode ser afetuoso, carinhoso e demonstrar remorso pelo que fez durante o uso. Isso mostra que a dependência química não elimina os sentimentos, mas os distorce enquanto a pessoa está consumindo a substância.

A Família e a Percepção da Doença

Muitos familiares têm dificuldade em enxergar a dependência química como uma doença, pois acreditam que, se fosse realmente uma condição médica, o dependente aceitaria tratamento sem resistência. No entanto, a negação é um dos principais sintomas do problema, tornando a busca por ajuda ainda mais difícil.

Além disso, algumas famílias relatam que o dependente pode ser uma pessoa extremamente carinhosa e gentil quando está sóbrio, o que reforça a ideia de que a substância é a responsável pela mudança de comportamento e não a ausência de sentimentos.

O Ciclo Vicioso e a Dificuldade de Quebrá-lo

Muitos dependentes continuam no uso porque não conseguem lidar com os sentimentos que emergem quando estão sóbrios.

A droga oferece um alívio momentâneo, criando um ciclo vicioso no qual a substância é a única forma de evitar a dor emocional.

Quando a dependência atinge um nível em que a pessoa não tem mais controle sobre sua própria vida e sua saúde mental está comprometida, a intervenção da família pode ser necessária para iniciar um tratamento.

Tratamento e Recuperação

Embora a dependência química não tenha cura, ela pode ser tratada em clínicas de recuperação. O dependente precisa ser visto como alguém que sofre de uma doença e necessita de acompanhamento profissional para conseguir se recuperar.

É fundamental que a família compreenda o problema e busque orientação adequada para lidar com a situação da melhor maneira possível.

O apoio emocional e a insistência no tratamento podem ser a chave para que ele recupere sua qualidade de vida.

Se você convive com um dependente químico e tem dúvidas sobre como agir, procure ajuda especializada.

A recuperação é um processo difícil, mas com tratamento adequado, é possível restaurar a saúde emocional e física do dependente e melhorar sua relação com a família.

Herberson Oliveira

Herberson Oliveira

Biólogo formado pela UFG, atualmente Chefe da Equipe de Treinamento para Clínicas de Recuperação e compartilha dicas aqui no blog do Portal